segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Arte de Liderar



Diz um ditado popular que “Manda quem pode, e obedece quem tem juízo”. Isto muito discutível, embora tenha certa lógica. Pelos princípios bíblicos, percebo que nem sempre quem manda, detém a liderança, principalmente uma liderança sábia para si e seus liderados.

Quanto ao obedecer é evidente que no dia-a-dia das relações sociais, a obediência aos pais, patrões, leis, etc., é necessária, com ressalva de que ela não exceda o que está escrito em Atos dos Apóstolos 5:29 “Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes importa obedecer a Deus do que aos homens.”Apesar do grande crescimento dos evangélicos no Brasil, há uma carência enorme de líderes coerentes com prática da Palavra em suas vidas. Daí a alternativa bíblica com base na fé, esperança e amor em Cristo Jesus nosso Salvador e Senhor.A Bíblia recomenda que não sejamos sábios aos nossos próprios olhos, mas que cada um assuma a sua obra. “Se alguém pensa que é importante, examine a sua própria maneira de agir, se ela for boa, então pode se orgulhar do que ele mesmo fez, sem precisar se comparar com a conduta dos outros. Porque cada um deve levar a sua própria carga.” (Gl. 6:3-5).

Neste sentido alguns pré-requisitos são necessários na liderança capaz:
· Ter uma real imagem de si mesmo, com suas habilidades e dificuldades.
· Aceitar o próprio corpo. Vários pacientes chegam ao meu consultório com baixa estima em relação ao corpo.
· Aceitação das circunstâncias. Ter a percepção do que pode ou não, mudar.
·Aceitar-se sem auto-preconceito e/ou auto-piedade.
·Conseguir sentir a dor do outro (empatizar).
· Aceitar os outros como são, sem manipulá-los.
· Apresentar-se aos outros como você é. Ser transparente.
· Não cultivar nenhuma raiz de amargura ou ira.

Todos estes pontos são importantes para um líder cristão. Com certeza, aquele que não consegue cuidar de si mesmo, dificilmente saberá liderar outros.Há vários tipos de líderes que se adaptam às pessoas, grupos ou situações. Em seu livro Crescendo Junto com a Comunidade (Missão Editora, 1991), Noé Stanley Gonçalvez, cita alguns tipos de líderes o formal e empossado, o informal e reconhecido, o líder social e o de opinião, além do líder de tarefa. Acrescentarei outros: o autoritário, o liberal e o democrático.Na verdade, a arte de liderar é algo que vem de Deus, como um dom. O aperfeiçoamento no meio cristão se dá à medida que, ao utilizar este dom, ele seja aplicado para a glória de Deus, segundo Colossensses 3:17.

Tenho recebido em meu consultório alguns líderes cristãos querendo abandonar o ministério, devido às múltiplas pressões recebidas. Talvez as pressões provenham da própria formação teológica, de si mesmo, da família, da igreja, e da sociedade. Não há separação entre o tempo para si, família e igreja, fica tudo misturado e as conseqüências são desastrosas para a saúde do líder, e também algumas vezes para a saúde de seus familiares. Alguns jovens chegam com crise de identidade também sentindo-se pressionados pela família, por exemplo, quanto ao passar no vestibular. Outros sentem pressão no trabalho, e muitos na própria igreja, etc.Estes jovens líderes, que estão numa fase de aprendizagem na vida, entram em crise e nem sempre têm o apoio necessário da família, igreja e de outras instituições, Quando é possível fazer um trabalho psicoterapêutico, é muito gratificante perceber o Senhor restaurando vidas e ministérios. Há muitos líderes cristãos feridos. É preciso, mais e mais que a igreja se torne comunidade terapêutica e de amor, pois também seus membros estão sofrendo por causa de feridas emocionais.

Todo este esforço será em vão se não tiver por base o que Jesus nos ensinou em Mateus 22:37: “Ama ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma, com toda a tua mente.” Este amor é que sustenta todo e qualquer líder cristão. É a base para a arte de liderar! Mas, logo em seguida Jesus disse: “Ame o seu próximo como você ama a si mesmo.” Este triângulo é fundamental em toda e qualquer relação humana saudável: No meio cristão percebo que o mandamento de amar a Deus é bem recebido, embora haja pouco compromisso. “Amar ao próximo” é também bastante comentado mas pouco vivenciado. Já o amor a si mesmo é quase esquecido, pois é encarado como sinônimo de individualismo, egoísmo. Esta atitude equivocada tem levado muitos líderes a situações conflituosas e ambíguas. Deveria ser natural que alguém com o coração cheio de Deus e do seu amor, fosse capaz de amar ao próximo. Mas, como isto pode acontecer se ela não se permite amar-se? Sem amor integral e triangular, algo está quebrado. Em I Coríntios 13 há o mais profundo e bonito poema sobre o amor.O desafio é se permitir a prática do arrependimento, perdão, amor a si mesmo, ao próximo e a Deus. Só com esta base amorosa que vem do coração do Pai. É possível aprender e praticar a verdadeira arte de liderar.

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